segunda-feira, 28 de março de 2016

Okay ladies, now let's get in formation

Eu tava de boas lá na minha, em fevereiro, quietinha e não dando a mínima pra nova música da Beyoncé que tava causando uma baita repercussão. Lembro de ter pensado algo como "Preguiça de acompanhar o mainstream"... Até que esse vídeo apareceu na minha timeline:

Jessica Williams, atriz e comediante, fala sobre as críticas f...

Jessica Williams, atriz e comediante, fala sobre as críticas feitas ao novo lançamento de Beyoncé e a apresentação no #SuperBowl.

Publicado por BEYHIVE.com.br em Terça, 9 de fevereiro de 2016

Dear, a cara do carinha aos 0:37. Impagável.



E eu fiquei "Okay, agora você tem minha atenção". Não acho que seja a pessoa certa para falar sobre isso - eu sou branca e moro no Brasil - mas eu quero muito falar sobre. Porque tem gente agindo assim:

"O Dia que Beyoncé virou Negra" - assista, legendada, à paródia do programa SNL sobre a reação de algumas pessoas após o lançamento de #Formation. #BEYHIVE

Publicado por BEYHIVE.com.br em Domingo, 14 de fevereiro de 2016
"A Taylor Swift ainda é branca?" Será que algum dia eu vou conseguir não rir disso?

Bem, vamos ao vídeo. É essa delícia aí embaixo.


Como você deve estar imaginando, eu fiquei muito brava comigo mesma por não ter assistido antes. Como hater só serve pra dar mais audiência, Formation estourou. Gente, fizeram um Pikachus in formation. Pikachus.

E aí veio o Super Bowl. Aqui tem a apresentação completa, caso você queria ver/ouvir. Recomendo ver, foi uma bela apresentação. Coldplay arrasou, apesar de não ter sido o foco da apresentação, e o final foi muito bom, com versos Up & up, do Coldplay, sendo cantado por todos. Mas vamos ao que interessa para esse post, bb. Vamos ao dueto entre Mark Ronson ft Bruno Mars e a Queen B. 



E aí fez todo o sentido a revolta do pessoalzinho branco que ficou incomodado - A música não é pra nós, branquelos, e ela foi tocada no fucking Super Bowl, transmitido MUNDIALMENTE. O recalque foi tamanho que ela quase caiu.

Mas qual a importância dessa música? Bem, para entender, vamos analisar uns pedaços da música/do clipe.

O clipe começa com Messy Mya perguntando o que aconteceu em Nova Orleans. Bem, uma gravação dele. O youtuber, um negro que foi baleado e morreu em 2010 (Surprise, surprise), em Nova Orleans, após sair da festa de chá de bebê do seu (na época não nascido) filho. 

Essa pequena pergunta remete ao furacão Katrina e ao próprio Messy. Se você tiver no mínimo uns 15 anos, deve lembrar das reportagens, daquela gravação mostrando a água destruindo tudo em seu caminho que foi exibida no Fantástico (ou foi no Domingo Espetacular? Não importa.). Bem, o que conhecia por Nova Orleans - Conhecia, pois a imagem que eu tinha da cidade foi destruída enquanto pesquisava. - era aquela imagem de A Princesa e o Sapo, da Disney: Uma cidade de brancos e negros convivendo em harmonia. Até onde eu pude ver, isso até que era verdade... Até 2005 e aquele furacão. Depois, foi tudo pro buraco. A assistência foi péssima e a debandada daqueles que podiam dar no pé foi inevitável. A quantidade de moradores de rua cresceu, o preço dos imóveis também - tanto para locação quanto para compra. A população de Nova Orleans ainda é predominantemente negra, mas a porcentagem caiu de 67% para 60% (SANTANA, 2015). A renda das famílias negras é metade da renda das famílias brancas, e a classe média e alta negra diminuiu. A cidade é a 32ª no ranking das 50 mais violentas do mundo. (CCSPJP, 2016).
Messy foi baleado em 2010. As investigações não levaram a lugar algum.

Depois, temos os figurinos, que passam pelo estilo do final do século 19 e parte do 20. Tapa na cara da sociedade.

Também temos "My daddy Alabama, Momma Louisiana/ You mix that negro with that Creole make a Texas bama". O pai da Queen B vem do Alabama, que fez parte da Confederação. A mãe descende de Joseph Broussard, um cara que liderou uma revolta mal sucedida contra os ingleses e vem da Louisiana, que também fez parte da Confederação. "Bama" era uma gíria usada para negros que "não sabiam se comportar adequadamente" na frente de brancos. Mais à frente ela canta "I like my negro nose with Jackson Five nostrils" que significa "Gosto do meu nariz negro com narinas de Jackson Five".  Ela demonstra que tá ok com sua raízes.
"Ah, cadê o trecho falando do cabelo?" Separei por causa da Blue Ivy u.u 
Explicando de uma forma bem simples, os Estados Confederados da América (Também conhecidos como "A Confederação") queriam se separar do resto dos EUA, depois que Abraham Licoln se tornou presidente. Não vou dizer que esse homem era um santo - lembro de ter lido em algum lugar que ele teve muitos escravos - mas quando ele assumiu o poder já era conhecido por ser abolicionista. Acontece que a Confederação gostava do seu regime escravocrata e essa foi uma das razões de quererem se separar.
Como você deve imaginar, toda essa cultura não sumiu do nada. Pelo pouco (POUCO, pelo amor de Deus. Não tomem a minha palavra como absoluta) que eu sei, ainda tem muito racismo entranhado na sociedade por lá.

Temos Blue Ivy, também. 
Owwwwwn :3
Primeiro, reparem nas crianças super fofas nesse gif. Gente do céu, é muita fofura. E vejam como Blue Ivy é carismática como a mãe.
Em 2014, uma mulher chamada Jasmine Toliver decidiu que não gostava do cabelo da pequena. Sem mais o que fazer, decidiu criar uma petição online para que a cantora "cuidasse" do cabelo da filha. (EGO, 2014) A resposta? 
"I like my baby hair, with baby hair and afros"
"Eu gosto do meu bebê, com cabelo de bebê e afros"
Flawless.

Tem também o "The Truth", o jornal com uma foto do Martin Luther King. Além da cutucada na imprensa, também  tem a homenagem ao Martin. Cliquem no link pra saber um tiquinho mais sobre esse moço.

Tem um garotinho dançando na frente de uma tropa de choque, e a pixação "Stop Shooting Us", que significa "Parem de atirar em nós". Ele ergue os braços, como se estivesse se curvando para a platéia e a tropa faz o mesmo, só que naquele sinal universal de rendição. Faz referência ao monte de casos de negros que morreram pelas mãos de policiais pelo simples fato de serem negros. Talvez não só pelos policiais - quem não lembra do homem que entrou numa igreja e matou 9 pessoas em junho do ano passado?

Tem "I might just be a black Bill Gates in the making, cause I slay", que significa "Eu posso ser o próximo Bill Gates negro, porque eu arraso", porque caso não tenha percebido, ela é rica pra caramba.

Tem a formação do X, uma referência ao Malcolm X e devem ter muitas outras referências que, por falta de informação, perdi.

Essa música pertuba porque mostra que o mundo não é cor de rosa e que brancos não são o centro do mundo - E isso é ótimo. Ela tira a galera do mundinho colorido e perfeito e mostra que sim, o racismo existe e pessoas conseguem ser ainda mais babacas do que a gente imagina.

Mas é isso gente. Acabou por aqui. Beijo, até a próxima.


Fontes:
- (EGO, 2014) http://ego.globo.com/famosos/noticia/2014/06/peticao-pede-para-beyonce-pentear-cabelo-da-filha.html (Não acredito que tô usando EGO como referência ._.)


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